quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

camas redondas, casais quadrados e a geraçao 90

De volta, depois de algum tempo sem postar, resolvi voltar à ativa. Como bom representante da geração 90, me peguei pensando em quanto essa década foi importante para minha formação moral enquanto cidadão. Graças a ela, me fez ser um neurótico consumado, que passou boa parte da adolescência assistindo á Sexta Sexy da Band e desejando ser Jésse Valadão. Só para recapitular, a geração 90 foi aquela que pegou os resquícios da liberação sexual dos 60, a experimentação dos 70 e a AIDS dos 80. Foi uma geração resguardada em muitos sentidos. O medo do contágio, criou uma geração de pais preocupados e cautelosos, que em nenhuma instância é ruim, pelo contrário, mas que caminha de encontro ao que eles mesmos fizeram outrora.

Minha geração viu o grunge como única salvação de uma música já em decadência( e que tristeza dizer que Kurdt Cobain foi um ícone) e uma incipiente entrada na geração tecnológica. Vimos a mapeação do Genoma, mas nenhum efeito prático disso, a não ser uma aberração de laboratório, que gerou uma novela da globo. Vimos o Brasil ser campeão do mundo após 24 anos, mas sem um pingo de inspiração futebolística( por sorte, eu como são paulino ainda vi um grande futebol) o plano real e a Judoca Edinanci. Tudo isso para chegar ao assunto de hoje: a repressão sexual dos 90.

A sensualidade que se apresenta hoje, parece ter sido guardada por Deus para esfregar na nossa cara. O sexo está banalizado e de fácil acesso, muito em parte devido à liberdade de escolhas apregoadas pelas redes sociais. Porém, para minha geração, tudo é muito novo. Sou de uma geração em que para se ter algum envolvimento sexual precisava de no mínimo 3,4meses, às vezes um ano de namoro. Sexo casual era coisa de mulher " perdida" ou gogoboy. Gravidez na adolescência era assunto controverso.

Tudo isso contribuiu para uma geração neurótica, com desejos reprimidos, que só agora está tentando fazer às pazes com eles. Vejo casais presos um ao outro, pelo medo da solidão, pela culpa católica, rezando para que um dos dois morra para alcançar a tão sonhada liberdade. A exploração da sexualidade é restrita aos locais próprios, sendo inalcançável na santidade do lar. A traição é o caminho mais fácil, mas será mesmo? Acredito firmemente na realização das fantasias, no diálogo, na compreensão do casal. É sempre muito mais saudável falar do seus desejos a quem lhe acompanha sempre. Mas temos liberdade pra isso? Posso dizer que a maioria das pessoas jamais sonhou em dizer metade das suas fantasias ao parceiro, e não por culpa delas, e sim pela intolerância de se admitir que todos tem desejo. Numa sociedade machista, a mulher reprimida jamais pode dizer o que realmente sente, tendo que se contentar com um marido burocrático, que também não compartilha suas fantasias, com medo de ser taxado de sujo.

E a culpa disso é da nossa criação puritana. As meninas de família 90 são criadas para serem amélias do mundo moderno, que além de cuidar da casa, do trabalho e dos filhos, são obrigadas a deixarem sua sexualidade em segundo plano. Masturbação feminina? Que os céus tenham piedade dessa pobre coitada que tivesse admitido isso na década supracitada. Somos uma geração quadrada, que se furta ao direito de ter prazer, em troca da manutenção de uma estrutura familiar falida. Embora não concorde com a maneira como a geração atual lida com relacionamentos afetivos, acredito que eles tem um pouco mais de liberdade nesse quesito. Claro que essa liberdade, se não cuidada, se transforma em libertinagem, mas é uma geração que ao menos em matéria sexual, não será frustrada.

Claro que nem tudo são pedras, pois a geração 90 ainda tem tempo de recuperar o tempo perdido. Homens e mulheres, o auto-conhecimento é fundamental, pois o desejo reprimido vira uma sujeira interna insuportável, ao qual não se consegue olhar, com medo do próprio juiz interno. Que haja espaço para o casal se abrir e se desejar. Amar é ser livre e poder ser você mesmo.

Postado ao som de:
Millie Jackson: " As merdas que fiz na vida"