domingo, 16 de janeiro de 2011

O princípio do prazer

É como vejo a situação das pessoas hoje em dia. O trabalho, a faculdade, as mil e uma obrigações desse mundo globalizado, que tornam nosso dia cada vez mais sufocante e entediante nos levam a um estado de baixa resistência à frustrações. Parece que o ser humano está cada vez mais distante de si mesmo, não existe qualquer resistência à dor. A dor que eu digo, não no sentido físico, mas no sentido de entrar em contato consigo mesmo, pois se provoca angústia, o ser humano foge, vivendo sempre naquele princípio hedonista, onde apenas o prazer momentâneo importa. Que porra são esses relacionamentos de isopor que estamos vivendo? A velocidade a qual está o mundo parece ter afetado nossa maneira de nos relacionarmos. Não se cria mais um relacionamento de profundidade. Os laços são desmanchados na primeira dificuldade, ou primeira incompatibilidade de idéias. Claro, é muito mais gostoso viver na eterna paixão, na eterna novidade, no eterno relacionamento de isopor. O que importa é se está tudo bem, pois se não está, simples, troca-se por outro, assim, como se troca uma peça de roupa,afinal, uma peça de roupa não tem sentimentos, não vai se importar de ser jogada ou trocada por uma mais nova.

Pra onde vamos com tudo isso? Que tipo de geração monstruosa é essa que estamos criando? São robôs, andróides,ciborgues, com a diferença é que no lugar dos circuitos, parecem ter sido trocados por fluídos libidinosos, cuja única expressão de vida é liberá-los no orifício mais próximo. Ao que parece ninguém se programa pra estar junto pelos próximos 10,20 anos, e sim até o próximo fim de semana, claro, em que tenha algo pra fazer, pois se não tem programa, um já começa acusar o outro de ostracismo e falta de criatividade. É muito fácil culpar o outro por não conseguir estar próximo de si mesmo. Na verdade lanço aqui a "carreira de consultor de criatividade dos programas dos casais que para evitarem entrar em contato com a profundidade um do outro se apegam a programas mequetréfes de preferência onde nem se olhem no rosto!" Acho que seria a carreira ideal pro tipo de relacionamentos que estamos vivendo.

As facilidades da vida moderna criaram um tipo de barreira invisível, onde é mais fácil ter uma rede social virtual do que perguntar a um amigo sobre o que ele está passando no momento. É mais fácil deixar um recado de aniversário do que ligar para a pessoa.E a pessoa ainda responde "obrigado pela lembrança" sendo que a data do aniversário está escrita na página. Enfim, sinceramente não sei onde vamos chegar com isso, se vai ser preciso uma onde de 30 metros invadir para começarmos do zero, sinceramente só sei especular, mas não o suficiente pra ganhar uma bolada na bolsa.

Enfim,estou assustado.

Postado ao som de:
Millie Vanilli

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Meu dia de Rocky Balboa

Essa noite revi o filme "Rocky Balboa", o último da saga do garanhão italiano. A primeira vez que o vi foi em 2008 e esse ano tem a ver com esse post, mas explicarei mais pra frente. Na verdade achei o filme ótimo. Me emocionei bastante, principalmente na cena final, onde o resultado pouco importou para ele, sendo que os louros e glórias das vitórias seriam um mero adorno para um ego cada vez menos sisudo. Quando digo que a história tem a ver comigo, não pretendo narrar nenhuma briga em que me meti, mesmo porque, se eu saísse "no braço" tipo, com a Malu Magalhães, dava empate técnico. A história foi bem diferente.
Em 2007 tinha acabado de passar por um processo onde, depois de muito sofrimento, consegui recuperar minha saúde e até mesmo minha sanidade, que por pouco não foi perdida de vez. Então, resolvi voltar a procurar meu antigo grupo de teatro, seguindo uma forte intuição, e fui muito bem recebido. Fiquei trabalhando nos bastidores, carregando cenários, fazendo sonoplastia e sabe qual a maior?Eu amei cada momento. Se eu fosse colocado nessa posição anos atrás, meu ego de ator canastrão, viciado em aplausos por educação jamais permitiria. Mas nessa época ( e faria de novo), senti como se estivesse conectado ao mundo novamente. A sensação do trabalho pesado e de me sentir querido e aceito foi algo fundamental na minha cura. Mas a história em si começa mesmo no ano seguinte.
Quando comecei 2008, cheguei para o meu diretor, jogando verde, com uma idéia de fazer um monólogo. Ele achou estranho, mas no fim, o que era pra ser uma brincandeira, acabou virando um trabalho e um desafio, pois nenhum dos dois tinha qualquer experiência em monólogo. E foi aí que a história começou a me lembrar do filme de Balboa. Primeiro porque os ensaios foram super puxados, tive que fazer um trabalho de corpo pesadíssimo, por pouco não tive que ir num açougue esmurrar uma peça de coxão duro. Fui muito cobrado, e muitas vezes não acreditei em mim. Mas o trabalho saiu, apesar do pouco tempo de ensaio.
No dia da apresentação, minha tensão era evidente. Eu mal conseguia ficar parado, pensando em como seria voltar ao palcos depois de 4 anos. Eram cinco monólogos à noite. O engraçado de tudo isso, é que eu era o mais velho ali. Por ser um festival estudantil, os participantes eram em sua maioria do ensino médio. No festival também tem a categoria "voto popular", onde o público elege a melhor cena da noite. Não preciso nem dizer que no teatro choviam turmas inteiras do colégio, pais,tios, sobrinhos,papagaios e tias avós peidorrentas torcendo para a garotada. Eu não avisei ninguém da apresentação. Minha cena era a última da noite. Lá de cima do camarim eu ouvia os gritos efusivos ao final das apresentações. Quando desci as escadas, era como se estivesse realmente entrando num ringue de Las Vegas. Muita gente ali já havia criticado meu trabalho algumas vezes e outras sequer ouviram falar, mas ali estava eu, alguns anos mais velho, sem pisar num palco fazia tempo, destreinado, inseguro...mas entrei mesmo assim.
Quando comecei a cena, senti uma energia muito forte, e foi como se tudo aquilo que guardei durante anos voltasse à tona, ou como diria Rocky "as coisas no porão". Modéstia à parte, dominei a cena e fui ovacionado. Muitos foram me abraçar e me parabenizar, como a cena em que o campeão de boxe é cumprimentado. A maioria das pessoas foi unânime em dizer que foi a melhor cena da noite e meu diretor cravou "você vai levar prêmio de melhor ator".
Porém os jurados foram duros e críticos e quem acabou levando foi um dos atores da escola que patrocinava o evento. No voto popular creio que ficamos em quarto lugar. Ainda bem que não tinha rebaixamento. Mas só esse fato me deixou feliz, porque sei que aqueles que votaram, votaram porque realmente gostaram. E na verdade, como no filme, o resultado pouco importou para mim, e sim o fato de ter me levantado das porradas e prosseguido. Naquele momento meu próprio ego entendeu que ele é parte de algo muito maior, que o coração até pode ter suas feridas e as cicatrizes podem endurecê-lo, mas nunca é tarde pra se sentir vivo.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Síndrome de Plantinha

É como me sinto e me senti a vida toda. Eu acredito que a metáfora da planta ou da árvore frutífera seja muito aplicada a como me sinto. Eu sei que assinei um contrato para estar aqui, e sei que nesse contrato inclui tudo aquilo que subjaz à minha condição, mas creio não incluir a maneira como fui transformando os fatos em atitudes. Eu sou uma árvore pronta para dar frutos, desde que seja regada, que receba água, porém creio que não tenho recebido o suficiente ultimamente. Ando me sentindo desvalorizado, como se muitas coisas do que eu faço não fizessem qualquer diferença. Tá, eu sei que EU devo dar valor pra isso, e como dou, e é por isso que acho que preciso de mais. Não me sinto valorizado no meu trabalho. Eu sei da minha capacidade e do quanto posso render, mas insistem em me deixar numa função nada condizente com o que sei realmente. Eu agradeço por esse meu trabalho, pois é ele que paga minhas contas, mas me irrita saber que posso fazer mais, por mim e pelo outro, mas não estou fazendo. Na minha faculdade nem se fala. Procuro, todos os dias em que acordo, me lembrar que cada um tem seu momento, e cada um sabe aquilo que precisa pra evoluir no momento. Mas sinceramente não tenho conseguido conviver com tanta futilidade e imbecilidade, me sinto fora do mundo e o que é pior, não tenho a mínima vontade de mudar esse quadro. Não tenho vontade de dispender energia tentando fazer uma chamada social, porque antes de mais nada, eu me respeito e não faço nada que vá me deixar fora do que sou realmente. Não tenho libido pra dispender pra essas pessoas, e ainda faltam dois anos de convivência.
No meu convívio diário também ando assim. Exceção feita aos amigos de longa data, são poucas as pessoas que hoje posso dizer que fazem a diferença. Claro, eu sempre conto comigo e apenas comigo para realizar minhas coisas, mas anjos de uma asa só tem mais dificuldades pra voar. Parece que muitas vezes estou pregando no deserto. Me dá vontade de largar tudo, como muitas vezes já tive. Só não largo porque minha fé é maior( seria fé ou idiotice mesmo?eu nunca vou saber a diferença). Mas também, diga-se de passagem, preciso agradecer muito às poucas pessoas que realmente estão comigo, a essas eu jamais deixarei de dizer um sincero "muito obrigado".
Não vou ficar me lamentando, até porque o show tem que continuar, seja um monólogo ou não, as cortinas vão subir e eu farei o meu melhor, porque no final, os aplausos que eu escutarei são ecos do meu próprio sucesso.
Namastê