Essa noite revi o filme "Rocky Balboa", o último da saga do garanhão italiano. A primeira vez que o vi foi em 2008 e esse ano tem a ver com esse post, mas explicarei mais pra frente. Na verdade achei o filme ótimo. Me emocionei bastante, principalmente na cena final, onde o resultado pouco importou para ele, sendo que os louros e glórias das vitórias seriam um mero adorno para um ego cada vez menos sisudo. Quando digo que a história tem a ver comigo, não pretendo narrar nenhuma briga em que me meti, mesmo porque, se eu saísse "no braço" tipo, com a Malu Magalhães, dava empate técnico. A história foi bem diferente.
Em 2007 tinha acabado de passar por um processo onde, depois de muito sofrimento, consegui recuperar minha saúde e até mesmo minha sanidade, que por pouco não foi perdida de vez. Então, resolvi voltar a procurar meu antigo grupo de teatro, seguindo uma forte intuição, e fui muito bem recebido. Fiquei trabalhando nos bastidores, carregando cenários, fazendo sonoplastia e sabe qual a maior?Eu amei cada momento. Se eu fosse colocado nessa posição anos atrás, meu ego de ator canastrão, viciado em aplausos por educação jamais permitiria. Mas nessa época ( e faria de novo), senti como se estivesse conectado ao mundo novamente. A sensação do trabalho pesado e de me sentir querido e aceito foi algo fundamental na minha cura. Mas a história em si começa mesmo no ano seguinte.
Quando comecei 2008, cheguei para o meu diretor, jogando verde, com uma idéia de fazer um monólogo. Ele achou estranho, mas no fim, o que era pra ser uma brincandeira, acabou virando um trabalho e um desafio, pois nenhum dos dois tinha qualquer experiência em monólogo. E foi aí que a história começou a me lembrar do filme de Balboa. Primeiro porque os ensaios foram super puxados, tive que fazer um trabalho de corpo pesadíssimo, por pouco não tive que ir num açougue esmurrar uma peça de coxão duro. Fui muito cobrado, e muitas vezes não acreditei em mim. Mas o trabalho saiu, apesar do pouco tempo de ensaio.
No dia da apresentação, minha tensão era evidente. Eu mal conseguia ficar parado, pensando em como seria voltar ao palcos depois de 4 anos. Eram cinco monólogos à noite. O engraçado de tudo isso, é que eu era o mais velho ali. Por ser um festival estudantil, os participantes eram em sua maioria do ensino médio. No festival também tem a categoria "voto popular", onde o público elege a melhor cena da noite. Não preciso nem dizer que no teatro choviam turmas inteiras do colégio, pais,tios, sobrinhos,papagaios e tias avós peidorrentas torcendo para a garotada. Eu não avisei ninguém da apresentação. Minha cena era a última da noite. Lá de cima do camarim eu ouvia os gritos efusivos ao final das apresentações. Quando desci as escadas, era como se estivesse realmente entrando num ringue de Las Vegas. Muita gente ali já havia criticado meu trabalho algumas vezes e outras sequer ouviram falar, mas ali estava eu, alguns anos mais velho, sem pisar num palco fazia tempo, destreinado, inseguro...mas entrei mesmo assim.
Quando comecei a cena, senti uma energia muito forte, e foi como se tudo aquilo que guardei durante anos voltasse à tona, ou como diria Rocky "as coisas no porão". Modéstia à parte, dominei a cena e fui ovacionado. Muitos foram me abraçar e me parabenizar, como a cena em que o campeão de boxe é cumprimentado. A maioria das pessoas foi unânime em dizer que foi a melhor cena da noite e meu diretor cravou "você vai levar prêmio de melhor ator".
Porém os jurados foram duros e críticos e quem acabou levando foi um dos atores da escola que patrocinava o evento. No voto popular creio que ficamos em quarto lugar. Ainda bem que não tinha rebaixamento. Mas só esse fato me deixou feliz, porque sei que aqueles que votaram, votaram porque realmente gostaram. E na verdade, como no filme, o resultado pouco importou para mim, e sim o fato de ter me levantado das porradas e prosseguido. Naquele momento meu próprio ego entendeu que ele é parte de algo muito maior, que o coração até pode ter suas feridas e as cicatrizes podem endurecê-lo, mas nunca é tarde pra se sentir vivo.
Querido Barrela, dou-me meus parabens mesmo distante e quase pouco presente em tua vida. Guarde os poucos momentos que passamos juntos. No teatro e algumas mesas de bares.
ResponderExcluirFico feliz em tua recuperacao mas acho que a sanidade nunca volta. E eh isso que nos deixa mais feliz. Porque somos Atores.
Vai querido. Nao pare nunca. Foda-se o tempo, as criticas e apenas faca acreditando sempre que voce pode mais. Sempre mais.
Abrss