segunda-feira, 11 de junho de 2012

O belo e a letra: uma pequena análise sobre o macho alfa


Acredito firmemente na hipótese de que o ser humano no fundo guarda algo de bom, e que sempre há uma luz no fim do túnel, mesmo diante de tanto lixo e hipérboles narcísicas que se encontram por aí. Mesmo com tudo que vem acontecendo, acho que o mundo hoje é um lugar menos difícil de se viver do que foi a alguns anos atrás. Seja pelas facilidades tecnológicas, seja pela abertura de consciência que vem se avizinhando aos poucos, o fato é que as coisas são menos densas do que eram há um tempo atrás.
Porém, tudo que vai, volta e que se a vida é uma equação exata, tudo cobra seu preço. O acesso a subterfúgios de toda espécie vem agravando determinados comportamentos. Disse a pouco, que o ser humano está mais sutil, porém muito mais narcisista e individualista. Pode parecer incoerente, mas as pessoas tem se voltado para si, de forma a reconhecer essa nova imagem. A velhice é algo odiado e evitado, a experiência banalizada em prol do imediatismo e a tranquilidade do amor, quebrada em virtude do prazer momentâneo. Nisso, surge um novo tipo de valor: O macho alfa.
Quando digo alfa, me refiro a homens e mulheres que preenchem os requisitos midiáticos, por conseguinte são aqueles que estão em evidência. As exigências, cada vez mais duras de uma sociedade consumista faz com que atingir esse padrão seja cada vez mais difícil de ser alcançado. Mas há quem persiga e o pior, que supostamente consiga!  O ideal do adônis, do corpo perfeito, ainda é fortemente presente, mesmo que se digam que o capital da nova era é o intelecto. BULLSHIT, eu diria!
Como um dos machos não alfas, que correm no rebanho, sinto que ser intelectual hoje é muito melhor do que há anos atrás, porém não o suficiente. O intelecto e o conteúdo ainda perdem espaços para o que é transitório, fugaz. Ainda não sei onde vai dar essa perlenga, pois embora as coisas estejam caminhando para uma mudança, há ainda o contraponto. Longe de mim ser o arauto da intelectualidade, pois deve haver espaço para ambos, ou melhor, para toda e qualquer manifestação, independente do que seja. Simplesmente procuro chamar a atenção para o fato de que o que é imposto não necessariamente é o real, e que devemos voltar nossos olhos para tudo aquilo que não é imediato, pois dentro de um livro de capa rasgada por vezes há um conteúdo capaz de propor mudanças e talvez estabelecer a cura.
Ok eu disse isso pra mim mesmo...

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"Hermes de aquino:Santa maria"( esse com certeza não passaria nem na porta de uma grande gravadora hoje)

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Convivendo com a dor


Ouvindo meu grande ídolo Belchior( apesar de sempre me acharem excêntrico quando falo isso), há uma frase muito sábia que diz “o passado é uma roupa que não nos serve mais”. Nada mais correto e assertivo, porém, por mais que eu tente, ainda sinto muita dificuldade em retirar essa roupa apertada, desgastada, mas que ainda machuca. Essa dor que dói no peito e apenas eu sou o responsável por ela, dói, e dói eternamente. É como aquela dor fininha, que não é crônica, e algumas vezes até consigo não dar atenção pra ela, porém, está lá, eu sei que está lá. Em cada esquina que eu viro, penso se não vou encontrar com ela de novo, e por algum segundo perder meu controle.

Longe de mim ficar chorando ou reclamando, mesmo porque minha vida é ótima na maioria dos aspectos. Mas essa questão de aceitação sempre me incomodou. Me sinto um homem invisível por onde quer que eu passe; me sinto desvalorizado, como se minhas jóias não coubessem em nenhum dedo. Até cabem, mas são poucos os que tem abertura para receber.

Cada um tem de mim aquilo que cativas, e embora eu tente mudar, tem pessoas que insistem em só observar seu lado negativo, em apontar apenas seus pseudo-defeitos, e não te enxergam como um ser humano completo. As várias máscaras que usamos, às vezes afasta as pessoas, e acho que fui um especialista nisso minha vida inteira. Por mais gentil e dócil que eu tente ser, o que vale mais é seu tombo, e não a lambada que você levou para chegar a ele. Perguntou se eu estou errado? Até acredito que sim, pois não seria narcisista ao ponto de atribuir meus defeitos ao outro, mas isso não muda o fato de que me sinto um eterno coadjuvante.

 Eu acho que não nasci muito pra ser eminência parda, um cara dos bastidores.
Mas até na minha ânsia de brilhar, eu quero auxiliar. Eu quero estar “lá” para poder ajudar. Eu me considero altruísta, mas vejo que não faço a diferença na vida de muitas pessoas. E se faço, é exatamente daquela maneira discreta, quase invisível, e mais uma vez voltamos ao tema do início. O próprio espírito é invisível, e tenho fé nele, mas não é só de espírito que vive o homem. O corpo sem um espírito apodrece, mas um espírito sem um corpo não se manifesta.  É assim que me sinto. Acho que conquistei o mundo espiritual de maneira capenga e isso está refletindo no mundo físico.

E por me sentir magoado, machucado, acabo me fechando ainda mais. Não permito que as pessoas conheçam meu tesouro interno e isso gera um círculo vicioso. Não me sinto valorizado pelas pessoas, mas também não mostro 100% meu valor. Sei das minhas qualidades e defeitos, mas luto contra um leão por dia para que os últimos não sobressaiam aos primeiros. Acabo achando que aquilo que é meu nunca vai agradar.

Eu uso um espaço público para falar isso, mas não tenho a intenção de alardear isso aos quatro cantos, e nem gosto de perturbar as pessoas do meu convívio com esse assunto que já dura a minha vida inteira. Tem coisas que nós levaremos para o túmulo, e essa minha ferida acredito que será uma delas. Por mais espiritualizado que eu me considere, essa dor não é uma coisa para essa vida, e sim algo que será pago em suaves prestações ao longo de toda uma eternidade. Lágrimas não choradas encontram outros olhos para chorar. Não quero que elas saiam do meu controle, como já saíram uma vez, mas sinceramente não gosto de sentir essa dor.

Ninguém nunca entenderá, pois ninguém nunca entende ninguém. O que nós fazemos e ter empatia e se aproximar do que o outro diz. A dor do outro, é apenas dele. Quem pode julgar que uma unha encravada dói menos que uma dor de cabeça? Que uma é mais ou menos dolorosa. Cada um possui suas feridas, cada pássaro sabe onde sua asa dói e até onde consegue voar. Acho que ainda não descobri o meu limite, mas a ferida ao menos eu consigo visualizar.

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 Belchior: Um dos caras que mais entende a alma masculina. E que também é meio "homem invisível"