Ouvindo meu grande ídolo Belchior( apesar de sempre me
acharem excêntrico quando falo isso), há uma frase muito sábia que diz “o
passado é uma roupa que não nos serve mais”. Nada mais correto e assertivo,
porém, por mais que eu tente, ainda sinto muita dificuldade em retirar essa
roupa apertada, desgastada, mas que ainda machuca. Essa dor que dói no peito e
apenas eu sou o responsável por ela, dói, e dói eternamente. É como aquela dor
fininha, que não é crônica, e algumas vezes até consigo não dar atenção pra
ela, porém, está lá, eu sei que está lá. Em cada esquina que eu viro, penso se
não vou encontrar com ela de novo, e por algum segundo perder meu controle.
Longe de mim ficar chorando ou reclamando, mesmo porque
minha vida é ótima na maioria dos aspectos. Mas essa questão de aceitação
sempre me incomodou. Me sinto um homem invisível por onde quer que eu passe; me
sinto desvalorizado, como se minhas jóias não coubessem em nenhum dedo. Até
cabem, mas são poucos os que tem abertura para receber.
Cada um tem de mim aquilo que cativas, e embora eu tente
mudar, tem pessoas que insistem em só observar seu lado negativo, em apontar
apenas seus pseudo-defeitos, e não te enxergam como um ser humano completo. As
várias máscaras que usamos, às vezes afasta as pessoas, e acho que fui um
especialista nisso minha vida inteira. Por mais gentil e dócil que eu tente
ser, o que vale mais é seu tombo, e não a lambada que você levou para chegar a
ele. Perguntou se eu estou errado? Até acredito que sim, pois não seria
narcisista ao ponto de atribuir meus defeitos ao outro, mas isso não muda o
fato de que me sinto um eterno coadjuvante.
Eu acho que não nasci muito pra ser
eminência parda, um cara dos bastidores.
Mas até na minha ânsia de brilhar, eu quero auxiliar. Eu quero
estar “lá” para poder ajudar. Eu me considero altruísta, mas vejo que não faço
a diferença na vida de muitas pessoas. E se faço, é exatamente daquela maneira
discreta, quase invisível, e mais uma vez voltamos ao tema do início. O próprio
espírito é invisível, e tenho fé nele, mas não é só de espírito que vive o
homem. O corpo sem um espírito apodrece, mas um espírito sem um corpo não se
manifesta. É assim que me sinto. Acho
que conquistei o mundo espiritual de maneira capenga e isso está refletindo no
mundo físico.
E por me sentir magoado, machucado, acabo me fechando ainda
mais. Não permito que as pessoas conheçam meu tesouro interno e isso gera um
círculo vicioso. Não me sinto valorizado pelas pessoas, mas também não mostro
100% meu valor. Sei das minhas qualidades e defeitos, mas luto contra um leão
por dia para que os últimos não sobressaiam aos primeiros. Acabo achando que
aquilo que é meu nunca vai agradar.
Eu uso um espaço público para falar isso, mas não tenho a
intenção de alardear isso aos quatro cantos, e nem gosto de perturbar as pessoas
do meu convívio com esse assunto que já dura a minha vida inteira. Tem coisas
que nós levaremos para o túmulo, e essa minha ferida acredito que será uma
delas. Por mais espiritualizado que eu me considere, essa dor não é uma coisa
para essa vida, e sim algo que será pago em suaves prestações ao longo de toda
uma eternidade. Lágrimas não choradas encontram outros olhos para chorar. Não quero
que elas saiam do meu controle, como já saíram uma vez, mas sinceramente não
gosto de sentir essa dor.
Ninguém nunca entenderá, pois ninguém nunca entende ninguém.
O que nós fazemos e ter empatia e se aproximar do que o outro diz. A dor do
outro, é apenas dele. Quem pode julgar que uma unha encravada dói menos que uma
dor de cabeça? Que uma é mais ou menos dolorosa. Cada um possui suas feridas,
cada pássaro sabe onde sua asa dói e até onde consegue voar. Acho que ainda não
descobri o meu limite, mas a ferida ao menos eu consigo visualizar.
Postado ao som de:
Belchior: Um dos caras que mais entende a alma masculina. E que também é meio "homem invisível"
Nenhum comentário:
Postar um comentário