sábado, 18 de dezembro de 2010

O grito dos solitários


Em algum passado não muito remoto, me lembro de ter escrito algo a esse respeito, mas não vejo porquê não voltar ao assunto. Já é lugar comum o meu ódio irrestrito a qualquer tipo de balada ou aglomeração imbecil social, porém, creio que existe algo que, embora eu nunca tenha estado em uma, imagino que multiplicaria por uma dízima periódica o quanto eu detesto esse tipo de ambiente. Eu falo aqui das chamadas micaretas! Não, não vou enumerar as razões pelas quais eu jamais pisaria em tal solo, não vou citar os preços "populares" que cobram para as pessoas se aglomerarem, se baterem, se pisarem e porquê não, se urinarem! Sim, porquê eu nunca vi em um abadá um banheiro ou fossa que seja, e toda aquela cerveja não evapora por mágica pelos póros da pele. Também não vou citar a pegação, mesmo porque não sou um cânone ou santo sequer pra condenar,apenas acredito na troca, no intercâmbio entre as pessoas. Duvido que em uma micareta/abadá alguém se preocupe em dizer "olá, antes de beijar-te gostaria de lhe informar sobre minha hérpes bucal!" Conheço um amigo que ama micareta, pois lá ele pode beijar sem dizer uma palavra, utilizando alguma manobra marcial para deter o ser do sexo oposto, numa atitude neandertálica, por assim dizer. Como disse, não acho isso errado, apenas acho que é do ser humano acolher e se perder um pouco em cada pessoa, mas quando esse número é muito elevado, o que será da manhã seguinte dessa pessoa? Não é a toa, que além da ressaca, o sentimento de culpa é um dos mais comuns.


Porém, não era tanto isso que eu queria abordar, e sim falar de uma teoria que eu tenho, e que diz respeito ao título: a micareta é um grito de dor, desesperado em busca de acolhimento e aconchego. Eu passo a me chamar Evelyn boca quente se ao menos, 80% das pessoas que estão lá, se "esbaldando" como dizem, não preferiam estar em casa, vendo um dvd em boa companhia, ou qualquer programa que seja, mas o que quero dizer é que o público de micareta é composto por pessoas que sofreram no amor, ou que já não acreditam mais no mesmo. As letras apenas confirmam esse momento, pois elas tem a capacidade de captar o inconsciente daqueles que estão nessa faixa de frequência, que são quem fazem de verdade as micaretas. Aos artistas cabe apenas transcrever esse sentimento geral. Na verdade,uma boa parte delas até fala de amor, mas aquele "amor" que dura uma noite, um segundo, que embora para alguns se eternize, não vai passar de um rélez momento de um gozo indesfrutável. Muitos vão dizer que é um lugar onde se exteriorizam os demônios, se extravasa e 'joga tudo pro ar", porém não é fácil exorcizar algo que teima em aparecer com força no dia seguinte ao evento: a solidão.


Eu ,como sempre , gosto de meter o dedo na ferida e colocar o que eu acho. Pode ser que muitos não concordem, ou realmente refutem minha idéia, mas é simplesmente o que eu vejo e sinto ao ver aquela multidão de pessoas, marchando como formigas ao som de um marcha fúnebre, disfarçada de "êos êos" indo sabe-se lá pra onde, e jamais se preocupando em olhar para si.

Enfim....

2 comentários:

  1. Concordo com vc, Black!

    Micaretas e outras pegações fáceis são efêmeras, uma forma de vc se sentir menos mal por ser um bosta incapaz de se relacionar.

    Boa Negão!
    Gnomo

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  2. Ótimo paralelo Daniel,

    Em parcas condições higienicas e num calor terrivel, certamente os conceitos de diversão não estão sendo bem aplicados. Além de solidão, este tipo de diversão é uma forma de estar sempre na moda, em sintonia com as tendências do Brasilsão multicultural. A micareta é uma expressão do ser solitário, do ser modista, do ser despersonalizado, enfim, daquele ser em branco, que precisa ser moldado e desenhado para que perceba, portanto, a ridicularidade de suas formas de se divertir.

    abs,

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